Coleção Fundação PLMJ
Artistas:
Cristina Ataíde
João Leonardo
João Pedro Vale e Nuno Alexandre Ferreira
Miguel Ângelo Rocha
Vanda Vilela
Curadoria: João Silvério
Local: Sede "O Elvas" CAD
Horário de funcionamento:
3ª feira a 6ª feira: 10h00 – 14h00
Sábado e Domingo: 10h00 – 13h00 / 15h00 – 18h00
Folha de Sala:
Plano Aberto
No âmbito da FARRA, Festa da Arte em Rede na Região do Alentejo, a Fundação PLMJ apresenta uma exposição de obras do seu núcleo de escultura contemporânea no espaço de um clube histórico da cidade de Elvas, mais precisamente, “O Elvas”, Clube Alentejano de Desportos, fundado nos anos quarenta do século XX.
O título da exposição aproxima-nos de uma imagem cinematográfica, de um plano geral ou Plano Aberto, no sentido de potenciar a intervenção no espaço do salão nobre deste clube, transformando-o numa galeria informal, habitada pelas esculturas de seis artistas de duas gerações como Cristina Ataíde, João Leonardo, João Pedro Vale + Nuno Alexandre Ferreira, Miguel ngelo Rocha e Vanda Vilela.
A instalação das obras desenha diferentes momentos de uma estreita ligação à vida, ao seu aspeto lúdico, à celebração, ao desporto, mas também aos prazeres e deleites, à história dos costumes e da representação de género, bem como a questões da prática da escultura enquanto presença que interroga todos os que usam este espaço comunitário ou nele trabalham. O clube é o espaço onde se joga e conversa, lugar de encontro e de reunião, onde o público e o privado se encontram no mesmo espaço e no mesmo momento, num lugar de lugares diversos onde são partilhadas vivências que ali se manifestam e resgatam a sua existência.
A obra de Cristina Ataíde, “Mulher com árvore”, 1998, remete-nos para uma fase do seu trabalho em que a pedra (matéria que tem vindo a revisitar atualmente) teve uma acentuada importância, aliada ao bronze, sempre presente na sua prática. Esta escultura em dois elementos está intimamente ligada à figuração da mulher como elemento da natureza fértil, mas também a uma subtil imagem de robustez e resistência que se ergue perante o observador. A figuração humana, ou a sua referência, está também presente na peça de João Leonardo, “Untitled (Wall Piece Head #2), 2012, um busto composto a partir das beatas de cigarros fumados pelo artista. Uma obra paradoxal que dialoga com a história da arte e com a história dos costumes, do prazer e da sua compulsão, presente no ato de fumar, e que parece observar-nos frente a frente, como uma entidade anónima que resgata desejos, tensões e hesitações sobre a condição humana.
A escultura de João Pedro Vale + Nuno Alexandre Ferreira, “Bezoar”, 2006, é uma obra crítica e imbuída de uma subtil ironia sobre a nossa história política e colonial, sem esquecer um jogo com a máscara ou o disfarce, numa aceção às questões de género. Compõem-na dois materiais, um de uso quotidiano no pedestal, e o outro encimando-o como um objeto precioso. A linguagem é um dos elementos fundamentais da peça, começando pelo nome de uma marca nacional, as caricas da cerveja Sagres, lugar de uma vila costeira situada no extremo sudoeste de Portugal, na qual o Infante D. Henrique, patrono da demanda atlântica conhecida como “Descobrimentos Portugueses”, instalou no séc. XV um polo de estudo para a navegação e cartografia, o qual incluía um arsenal naval, um observatório e uma escola para o estudo da geografia e navegação; e simbolicamente o Bezoar, aqui constituído por uma peruca moldada, que na sua forma original é um cálculo ou concreção encontrada principalmente nos intestinos de animais ruminantes. Antigamente, os bezoares eram tidos como um poderoso antídoto universal contra qualquer veneno. Pensa-se que a palavra deriva etimologicamente do termo Persa pâdzahr, que significa “proteção contra o veneno”.
A linguagem é também uma matéria nas obras de Miguel ngelo Rocha e de Vanda Vilela. De Miguel ngelo Rocha, temos “Big Western”, 2008, é uma escultura que nos envia para o imaginário cinematográfico do séc. XX, relembrando um drama ou romance sobre cowboys no oeste da América do Norte. A obra é uma composição orgânica de materiais recuperados e pintados que associamos a uma ação dinâmica no espaço, acentuando esse movimento por um elemento em tecido, como um estandarte que é arrastado no solo, uma imagem de grande plasticidade que anuncia um final trágico. A peça de Vanda Vilela, “E jogámos ao galo”, 2000, remete para o universo lúdico do “Jogo do Galo”, um entretenimento para duas pessoas com regras simples, comummente conhecido como “três em linha”. A obra joga também, se assim se pode dizer, com a tradição da escultura clássica, sendo constituída por um pedestal e um pequeno carrinho de brincar com a inscrição e os artefactos utilizados para um jogo, numa linguagem que associamos, por um lado, à Pop Art e, por outro, ao imaginário popular e infantil.
Em plano aberto, uma galeria de imagens, escultóricas e vividas, percorre o salão d’“O Elvas”.
João Silvério
Sobre a Coleção Fundação PLMJ:
Fundada em 2001, a Fundação PLMJ parte da visão da PLMJ – Advogados como Espaço de Cultura e é detentora de uma coleção de arte contemporânea corporativa de referência, tendo como preocupação principal a valorização da criação artística em início de carreira ou em percursos artísticos confirmados. Fomentou diversos projetos expositivos e dispõe de uma galeria na sua sede, em Lisboa.