MAAT - Fundação EDP
Artistas:
Joana Vasconcelos
Miguel Palma
Carla Filipe
Luisa Cunha
Manuel Baptista
Curadoria: João Pinharanda
Local: Forte da Graça e Museu Militar
Horário de funcionamento do Forte da Graça:
3ª feira a Domingo: 10h00 – 18h00
Horário de funcionamento do Museu Militar:
3ª feira a Domingo: 10h00 – 12h30 / 14h30 – 19h00
Folha de Sala:
Peças de um puzzle
As sete peças de cinco artistas que agora se apresentam em diversos espaços de Elvas, no âmbito do projeto FARRA (Festa de Arte da Região do Alentejo), promovido pelo MACE (Museu de Arte Contemporânea de Elvas – Coleção António Cachola), pertencem ao acervo da Coleção de Arte Fundação EDP que, no seu conjunto, integra mais de 2540 obras de mais de 350 artistas.
A escolha das obras obedeceu a vários critérios. O primeiro deles não podia deixar de ser o da qualidade que lhes reconhecemos; em segundo e terceiro lugares, ponderámos a adequação das peças aos diferentes espaços físicos, mas também aos seus valores simbólicos e ainda ao programa público que orientou o convite que nos foi dirigido. Trata-se de apresentar algumas peças de um imenso puzzle que, como todas as coleções, estará sempre incompleto, sempre em expansão.
A FARRA prossegue um importante projeto de afirmação do MACE nos contextos regional, nacional e internacional, numa necessária e pioneira modalidade de diálogo com os públicos e outras instituições museológicas e coleções de arte contemporânea. O convite feito à Fundação EDP (através da sua Coleção de Arte e da curadoria do MAAT – Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia) para ocupação de espaços de caráter militar e de memória religiosa, mas, principalmente, de grande qualidade arquitetónica (onde predominam soluções de planta centralizada), também norteou os critérios de escolha das peças.
Turn Around, 2010, de Luisa Cunha, Pop Luz, 1995, e Flores do meu desejo, 1996-2010, de Joana Vasconcelos, Memorial ao Vagão Fantasma, 2011, de Carla Filipe, ou Casulo, 1960-70 e 2011, de Manuel Baptista (todas apresentadas no Forte da Graça), apresentam-se em espaços de evidente centralidade e/ou circularidade. Apenas Sementeira, 2006, de Miguel Palma ou Pic-nic Party, 1996, de Joana Vasconcelos, em virtude do programa específico que as determinou, se libertam dessa disciplina formal.
Numa das primeiras salas do percurso público do Forte da Graça, a peça de som de Luisa Cunha (Turn Around) joga com as conhecidas qualidades acústicas do espaço e também com a sua forma circular, onde logo se revela o predomínio das plantas centralizadas do edifício, ao mesmo tempo que ironiza sobre o narcisismo de cada um de nós (Turn Around, diz a voz da artista, you are so beautiful, volta-te, tu és tão belo/a).
As peças de Joana Vasconcelos pertencem ao período inicial da sua carreira, quando definiu algumas das principais soluções formais da sua obra e as cultivou de modo a um tempo crítico e inovador. A saber: a repetição de um mesmo elemento constitutivo (aqui, numa das peças, 240 espanadores roxos; na outra, 99 globos de vidro amarelo) para criar formas diversas que o título (muitas vezes ele mesmo citação reconhecível de um produto cultural massificado) reforça ou esclarece, sexualizando uma delas (Flores do meu desejo, situada no prolongamento da nave da antiga capela do Forte da Graça), ou emprestando a outra (Pop Luz, apresentada numa das salas centralizadas dos aposentos privados do Governador do Forte da Graça) a lógica de um logótipo comercial.
No cruzeiro da abóbada da antiga capela do Forte da Graça, que hoje se encontra separada da nave por uma construção posterior, quatro das quinze bandeiras que constituem o Memorial ao Vagão Fantasma, de Carla Filipe, introduzem uma dupla dimensão de comentário e crítica: por um lado, sendo bandeiras pensadas a partir de cartazes de sindicatos ferroviários, instrumentos de comunicação e luta sindical e política, mas que veem os símbolos e textos identificadores obliterados, tornam-se “pinturas” abstratas de memória construtivista; por outro, partilhando o espaço com um conjunto de pinturas murais (datadas dos anos 1930 e seguintes) de caráter amador, mas de forte conteúdo nacionalista, prosseguem o trabalho de crítica política que orienta a proposta artística da autora.
Pic-Nic party, a outra peça de Vasconcelos, tem um caráter utilitário. Na realidade, é um móvel: uma mesa perfurada por couvettes plásticas multicoloridas que podem conter aperitivos. Concebida para uma celebração de final de curso, será colocada no local da festa de abertura da FARRA, recuperando depois o seu (ambíguo) estatuto de escultura.
Ainda no espaço privado do Governador do Forte da Graça, apresenta-se Casulo, de Manuel Baptista, peça centralizada e suspensa que, no topo do edifício face à paisagem aberta em redor, numa zona que já foi de conflito e ainda se encontra carregada de memórias de guerra, deixa uma mensagem misteriosa: ovo primordial, inatingível.
Também à máquina agrícola apresentada nos espaços do Museu Militar podemos associar uma mensagem de paz e futuro: simulando um canhão, serve a Miguel Palma (Sementeira) para criar uma “arma” que semeia os campos. Hoje, numa altura em que a desertificação se agrava tragicamente à custa da sobre-exploração agrícola; hoje, numa altura em que se agrava a escassez de água, a falta de mão-de-obra que trabalhe com condições sociais justas; hoje, numa altura em que até o perigo de uma guerra real volta a colocar-se, a mensagem inicial contida na peça parece amplificar-se.
Lisboa, 1 de junho de 2014
João Pinharanda
Diretor, MAAT
A Fundação EDP e o MAAT agradecem ao Dr. António Cachola e à curadora do projeto FARRA, Dra. Ana Cristina Cachola, o desafio que este convite representou, esperando poder contribuir para o diálogo em curso entre coleções, especialistas e públicos.
Coordenação da Coleção de Arte Fundação EDP: Margarida Chantre;
Apoio à produção: Sérgio Gato;
Revisão: Manuel Alberto Vieira;
Sobre o MAAT - Fundação EDP:
Inserido no contexto da política de mecenato cultural da Fundação EDP, o MAAT – Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia é uma instituição internacional que se dedica a promover o discurso crítico e a prática criativa com vista a suscitar novos entendimentos sobre o presente histórico e o compromisso responsável com o futuro, através do debate, partilha e formulação de conhecimento.