Quéréla
Artistas:
Sofia Caetano
Curadoria: Ana Cristina Cachola
Local: Museu Militar - Paiol Redondo
Horário de funcionamento:
3ª feira a Domingo: 10h00 – 12h30 / 14h30 – 19h00
Folha de Sala
Um coro para a Terra
Um edifício circular, um vídeo projetado em círculo na cúpula da estrutura, uma despedida à Terra em pleonasmo visual para o qual concorrem arquitetura, imagem-movimento e tema. Canta-se uma despedida ao planeta como mantra. Todes são convidades a sentar e a cantar. De olhos no teto, microfone na mão. Esta obra de Sofia Caetano, como outras, opera num campo de pesquisa que cruza a urgência ecológica com os avanços da tecnologia, recorrendo a um registo tragicómico que nunca retira ao tema a seriedade que exige.
Num antigo Paiol, local normalmente redondo, projetado para o armazenamento seguro de materiais explosivos, é-se convidado a sentar num dos puffs cuja disposição acompanha a circularidade da edificação. Sobre cada um, um microfone que apela a que o espetador participe n´Um coro para a Terra” de Sofia Caetano, artista açoreana. Um ser humanóide que se assemelha a uma pintura que se tridimensializou guia o coro numa língua desconhecida. A personagem deste vídeo (preformada pela própria Sofia Caetano) despede-se repetidamente do planeta numa ficção científica ecofeminista, que mantém alguns traços vernaculares. O som ritmado não acompanha o pessimismo do refrão. O loop substitui o grito cada vez mais próximo e óbvio que anuncia o fim do mundo.
A prática artística de Sofia Caetano é pautada pela necessidade de inscrição, que obriga a vários momentos: plasticidade do décor e personagem, a performance e o seu registo, a instalação de diversos objetos e a participação do público. Estes momentos não funcionam como entidades autónomas, mas enformam, na sua simultaneidade uma ficção científica de proximidade: uma despedida em uníssono de um planeta moribundo. A influência direta da ficção na realidade é uma dinâmica amplamente comprovada por diversas áreas científicas. Da criação de estereótipos, à antecipação de imagens, passando pela identificação de rumos científicos, o ficcional aciona comportamentos, principalmente quando o espetador é convidado a participar. Parece que essa participação, a repetição de um mantra em conjunto tem algum poder. E aí olha-se para o objeto cónico no centro da sala, uma pirâmide, um vulcão, um artefacto mágico de uma cultura ancestral? O certo é que a personagem que se despediu do planeta repetidamente, tem um planeta no seu ventre. Está de esperanças de um (re)nascimento.
A criação artística ocupa um papel fundamental no desenvolvimento sustentável do mundo contemporâneo e da sobrevivência do planeta. A criação visual e plástica já não é apenas uma instância de representação de uma entidade que lhe antecede, mas de produção de novas realidades em que a consciência climática, a inclusão e a ética e a poética da esperança e se afirmam. Desta forma, pretende-se, com Um Coro para a Terra, ampliar a mancha criativa visual em que a estética e a ética se
fundem, promovendo a experimentação plástica, a literacia visual e o pensamento crítico.
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Sobre a Quéréla:
Quéréla é um espaço de investigação e apresentação que assume o Feminismo Intersecional enquanto prática, metodologia e temática. Fundado em 2020, convoca pesquisas sobre o conceito de “trouble” e a fonética, em português da palavra duplamente acentuada: é também o que ela quer. Contíguo ao O Armário, funciona em estreita colaboração com este.